O preconceito de que a natureza é dirigida por Deus

Ora, todos os preconceitos que aqui trato dependem de um único: que os homens pressupõem em geral que todas as coisas naturais agem, tal como eles próprios, em função de um fim, chegando até a ter como certo que o próprio Deus as dirige. Mas ao tentar provar que a natureza nada faz em vão, eles só parecem provar que, como os homens, a natureza e os deuses deliram. Observem a que ponto se chegou! Ao lado de tantas coisas agradáveis, encontraram não poucas desagradáveis, como tempestades, terremotos, doenças, etc. Argumentaram que tais coisas decorriam da cólera divina pelas ofensas feitas pelos homens. E embora a experiência mostrasse infinitos exemplos de que coisas cômodas e incômodas ocorrem igualmente aos piedosos e aos ímpios sem nenhuma distinção, nem assim abandonaram o preconceito. Foi-lhes mais fácil permanecer ignorantes e ter como certo que os juízos dos deuses superam em muito a compreensão humana. (Baruch Espinoza, Ética I, Apêndice).


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